q'eu só queria
era capturar
o desenho exato
do tremor
das minhas pernas
bambas
no desfiladeiro
quando a noite acaba
entre dois abismos
qualquer vento
ameaça
derrubar meus pertences
pelas rochas
os cipós
as folhas
os tons
do verde musgo
ao esmeralda
ao encarnar
um barulho
impiedoso
cada vez mais longínquo
e o intuito
dissimulado
de comprovar
o peso
infreável
de uma gravidade
muda
até a areia
fina
que abafaria
discreta
o rufar
da queda
de três mil metros
de altitude
abafaria
a crueldade
necessária
de todos
os esfacelamentos
estruturais
de uma garrafa
ao derramar
minha sede
ou de uma máquina
fotográfica
ao romper
o enclausuramento
imprescindível
da câmara escura
estouraria
as silhuetas
e as expressões
alaranjadas
acima das nuvens
nesse ocaso
flagrado
aos poucos
diminuindo
o diâmetro
das pupilas
receberia
afinal
branca e úmida
meus pés
sedentos
de macio
depois de atravessar
três vezes
o rio
que corta a trilha
impondo
correntes frias abaixo
dos dedos
que saltam
e se comprimem
como garras
pedra
pós
pedra
por mais que andasse
não escaparia
de uma saudade
cravada
em cada árvore
a samambaia
do seu quarto
que não figurou
na fotografia
eu queria registrar
o desenho exato
das sombras
que cortavam
o rosto
no cultivo
cuidadoso
dessa saudade
muito grande
q'eu tento
fazer ruir
os motores
tão rápidos
das lanchas
que atravessam
correndo
essas praias
míticas
as traineras de pescador
como enfeites
exóticos
acumulando algas
de uma paisagem
em luta
contra os rasgos
brancos
das navegações
velozes
são 40 minutos
até Paraty
e o sol de lá
é bem mais quente
os reflexos do rio
jogam
a luz do sol contra
as paredes rochosas
abrindo
portais
ondulantes
jogo de espelhos
impreciso
riscos
inumanos
de uma vida
muito anterior
às curvas
acentuadas
dos grandes
lábios
e um nariz fino
de um perfil
na penumbra
de um abajour
àquelas crianças
que puxam
pequenos barcos
com um barbante
na beira
do mar
e fazem
da minha mesa
de madeira
o posto
de gasolina
ao esforço
tremendo
de plataformas
de perfuração
de poços
válvulas
de aspiração
e compressão
a extrair
das bacias sedimentares
(nas passagens
entre a crosta
e o manto
da Terra
nos limites
entre as placas tectônicas)
o petróleo
a geometria
tridimensional
de uma solidão
se instala
nessas edificações
tremendas
ameaça
o esfumaçado
alvo
da via
láctea
qualquer possibilidade
de encontro
perfeito
entre dois
seres-humanos
todos os coágulos
do corpo
formam um composto
de alicerces
impenetráveis
imposições
paisagísticas
do mais alto grau
de imobilidade
sufocariam
todas as tardes
de incompreensão
vertiginosa
das paredes
ainda não pintadas
do prédio
em construção
única possibilidade
de compreensão
de uma agonia
sem palavras
a roer minhas bases
de extração
energética
minha mudez
preenchida
pelo concreto
armado
dessa viagem
guardo comigo
os selfies
com o menino
caiçara
as folhas secas
q'ele me deu
como pagamento
pelo combustível
e as tentativas
de apreensão
das oscilações das marés
do barulho do rio
da imobilidade ostensiva
das plataformas
o abraço mudo
q'ele me deu
de cabeça baixa
e a mandinga do retorno
com ameixa seca
na beira na última queda
d'água
q'ele ficou de me fazer
era capturar
o desenho exato
do tremor
das minhas pernas
bambas
no desfiladeiro
quando a noite acaba
entre dois abismos
qualquer vento
ameaça
derrubar meus pertences
pelas rochas
os cipós
as folhas
os tons
do verde musgo
ao esmeralda
ao encarnar
um barulho
impiedoso
cada vez mais longínquo
e o intuito
dissimulado
de comprovar
o peso
infreável
de uma gravidade
muda
até a areia
fina
que abafaria
discreta
o rufar
da queda
de três mil metros
de altitude
abafaria
a crueldade
necessária
de todos
os esfacelamentos
estruturais
de uma garrafa
ao derramar
minha sede
ou de uma máquina
fotográfica
ao romper
o enclausuramento
imprescindível
da câmara escura
estouraria
as silhuetas
e as expressões
alaranjadas
acima das nuvens
nesse ocaso
flagrado
aos poucos
diminuindo
o diâmetro
das pupilas
receberia
afinal
branca e úmida
meus pés
sedentos
de macio
depois de atravessar
três vezes
o rio
que corta a trilha
impondo
correntes frias abaixo
dos dedos
que saltam
e se comprimem
como garras
pedra
pós
pedra
por mais que andasse
não escaparia
de uma saudade
cravada
em cada árvore
a samambaia
do seu quarto
que não figurou
na fotografia
eu queria registrar
o desenho exato
das sombras
que cortavam
o rosto
no cultivo
cuidadoso
dessa saudade
muito grande
q'eu tento
fazer ruir
os motores
tão rápidos
das lanchas
que atravessam
correndo
essas praias
míticas
as traineras de pescador
como enfeites
exóticos
acumulando algas
de uma paisagem
em luta
contra os rasgos
brancos
das navegações
velozes
são 40 minutos
até Paraty
e o sol de lá
é bem mais quente
os reflexos do rio
jogam
a luz do sol contra
as paredes rochosas
abrindo
portais
ondulantes
jogo de espelhos
impreciso
riscos
inumanos
de uma vida
muito anterior
às curvas
acentuadas
dos grandes
lábios
e um nariz fino
de um perfil
na penumbra
de um abajour
àquelas crianças
que puxam
pequenos barcos
com um barbante
na beira
do mar
e fazem
da minha mesa
de madeira
o posto
de gasolina
ao esforço
tremendo
de plataformas
de perfuração
de poços
válvulas
de aspiração
e compressão
a extrair
das bacias sedimentares
(nas passagens
entre a crosta
e o manto
da Terra
nos limites
entre as placas tectônicas)
o petróleo
a geometria
tridimensional
de uma solidão
se instala
nessas edificações
tremendas
ameaça
o esfumaçado
alvo
da via
láctea
qualquer possibilidade
de encontro
perfeito
entre dois
seres-humanos
todos os coágulos
do corpo
formam um composto
de alicerces
impenetráveis
imposições
paisagísticas
do mais alto grau
de imobilidade
sufocariam
todas as tardes
de incompreensão
vertiginosa
das paredes
ainda não pintadas
do prédio
em construção
única possibilidade
de compreensão
de uma agonia
sem palavras
a roer minhas bases
de extração
energética
minha mudez
preenchida
pelo concreto
armado
dessa viagem
guardo comigo
os selfies
com o menino
caiçara
as folhas secas
q'ele me deu
como pagamento
pelo combustível
e as tentativas
de apreensão
das oscilações das marés
do barulho do rio
da imobilidade ostensiva
das plataformas
o abraço mudo
q'ele me deu
de cabeça baixa
e a mandinga do retorno
com ameixa seca
na beira na última queda
d'água
q'ele ficou de me fazer
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