terça-feira, 16 de junho de 2015

parte III

os ombros
rígidos
as pedras
polidas
ele segue
se
lança
em suporte-cúbico-esburaca-chão
mais uma imagem noturna
ruidosa

ele
(o meu amor)
é fitado
ao longe
por um gato
ou drone
aéreo
temido
por um gato
ou drone
aéreo
um vulto
ágil
como gato
ou drone
aéreo
irreconhecível por mim

hoje choveu
muito
e ainda chove
nas espraiadas
embaça
o streaming
impressionista
a confusão de corpos
guarda-chuvas
pretos
borrados
por Renoir
encharca
os acessos ao
Maracanã
uma bolsa
de líquido amniótico
estourada
em bile

bateu
uma onda forte
aqui
ninguém sabe de nada
enrola um pano
no rosto
se esconde
em cima do poste

o amor
é truculento
ele dizia
em outras palavras
com uma arma apontada
e armaduras de robô
gritava:

"corre, piranha"

medroso
Ulisses
de mãos ocupadas
não podia
tampar o ouvido
gritava
muito alto
(para não sucumbir)
ao canto
trincado
da nossa festa
ao amanhecer

sorte, não haver o que segure
som
a nossa festa
é uma grande festa de gestação
de estouros
de bolsas
de líquido
amniótico
vestimos preto
e celebramos
bêbados
do alto da lage
o lodo uterino derramado
a impossibilidade
de sair 

estamos presos
em plena
festa
e Ulisses
do lado de fora
nos ama tanto
e com tanta truculência
baleia
os próprios
tímpanos
e
com as duas balas que restam
o próprio globo
ocular

celebramos
com música alta
também o luto
de Ulisses
suporte-alvo-de-suporte-cúbico-esburaca-chão
nosso inimigo
querido se perdeu
em armaduras
para não derramar
junto
pelas frestas
dos copos quebrados
corpos
caindo
chuvosos
nas espraiadas