quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015


se viu refletida, se viu em pedaços de carne, pedaços de um carneiro fatiado, se viu numa estrada, no carro de refugiados sem gps, na cozinha, a dessalgar na água quente após banho de mar, a ser cozida por família libanesa, se viu puxada pelos dois braços, se viu esticar até esgarçar a manga da sua camisa mais antiga

que mal cabe matou
a fome de um desconhecido


se viu rompida do círculo, se viu multiplicada por todos os lados, se viu sem saber por onde o corpo ia enquanto se olhava no espelho, se viu na filha que já não reconhece sua nacionalidade no retrovisor, vi seu rosto numa paisagem desconhecia em movimento, ouviu minha voz em língua estrangeira, a chamar a mãe pelo nome