domingo, 18 de novembro de 2012

todos os rascunhos não valem ternura nenhuma - avalia especialista



- Pois virar bicho, a língua portuguesa não ensina. Triste sina, Maria, essa de bicho metido a não ser bicho

- Se eu fosse bicho, me diria - morde, bicho, morde, todas as palavras de uma vez

- E mordia para desfazê-las em gotículas de cuspe, de agonia. Liberdade é palavra frustrada, continua a não dizer nada aos bicho sujo do quintal

- Pois trate de se jogar na lama e esfregar o corpo na tela do computador

  Só assim se escreve poesia

- Só assim, mas no meu bairro não tem lama

- Pois rasgue a sua pele sobre o asfalto molhado e derrame o sangue sujo


*notas de um monólogo interior






álbum de fotografias perdidas


Les Parapluies, Auguste Renoir


                          
perdi todos os dentes
para morder melhor
a carne
que tanto me apraz

perdi o silêncio do mar
a casa da rua de terra
os dias de praia vazia

o peito de fora

aceitei ter que descascar
a fruta
antes de comer

obrigado e por favor
as pernas fechadas
os pés calçados

a agonia disfarçada
no comentário
sobre a festa do dia anterior

feliz aniversário e muitas alegias!

no meu quarto profile
sou meiga
e muito preocupada
com as guerras de Israel

you can upload many files

mas nenhum aplicativo impressionista
estampa
nos meus dias de chuva
algum guarda-chuva Renoir

já não caberá
a fantasia de odalisca do carnaval
de 1992

preciso correr
para não chorar

feito criança

vc precisa, vc precisa
deixar a cidade pra trás

mãmãe, coragem

você precisa, você precisa

bandeira branca,
baby