quarta-feira, 1 de abril de 2015

um corpo mutilado em azulejos azul e branco no apartamento do Arpoador pequenas formigas caminham entre os vasos de flor diante da janela prenúncio de murchar o pianinho de criança o biscoito molhado de café o meu colar de barro pintado também de azul propositadamente esquecido no caminho das formigas de repente elas passam sobre um céu

                                  apontado pra cima
                                  apontado pra cima
                                  apontado pra cima

                                                                  campainha as crianças chegam correm mais que as formigas as formigas se espantam não podem mergulhar no céu que é de um barro já muito sólido quebro o barro em mosaico? não foram à praia hoje? uma reunião de trabalho infinita em pleno domingo estou com fome não posso perder a hora disseram que comer formiga faz bem pra vista fala com a vóvó! se eu tivesse ao menos dormido e ainda preciso ler meia dúzia de tratados estéticos cadê o manifesto? depois navalha relógio matéria de jornal exposição um toque de celular vibra no silencioso as frestas entre os azulejos eliminadas as frestas entre os botões do teclado eliminadas uma parede única o corpo se dissolve os azulejos viram qqr coisa entre o azul e o branco qqr coisa onde se possa nadar mergulhar boiar tranquilamente sobre os mortos morrer é melhor que calmante ela dizia morrer ponte trampolim nadar entre os corais os corais são vivos há três mil anos nem parece

um corpo mutilado em azulejos azul e branco no apartamento do Arpoador formigas enfileiradas caminham entre os vasos de flor prenúncio de murchar o pianinho da criança meu pingente de barro pintado também de azul o mar envidraçado do outro lado da janela se o pingente cai no caminho das formigas entre um vaso e outro ao lado da xícara do café já frio passam em fileiras sobre um céu já frio

      apontado pra cima
      apontado pra cima
      apontado pra cima

                                    carniceiras procuram restos mortais de insetos antepassados ou o farelo do biscoito campainha as crianças correm mais que as formigas nem reparam o corpo em quadrados os azulejos que me tiram o apetite me tiram da reunião me tiram da discussão sobre direitos autorais me tiram das teclas dissolver esse açucar esse azul e branco esses pedaços de corpos esse pingente de barro quebrado essa cabeça cortada erguida por uma mulher dissolver tudo nós e os lap tops em recifes nesse domingo azul de frente pro mar no apartamento do Arpoador horário de luz natural do Pacífico no tempo exato de um esbarrão no pianinho