sexta-feira, 25 de julho de 2014

o corretor ortográfico como se corrigisse coluna, como se descorrigisse tb, desconfia da dor de cada disco se desfazendo em hérnia; de cada palavra que não me vem a cabeça; traçados anarco-infantis em iminência de pulo; linhas sem perspectiva quebrando vértebras; o ponto fugido; riscos em vermelho; arranhão de gato impaciente no rosto luminoso. onde está o descorretor p/ descontrair minha coluna? se eu ao menos soubesse massagear meus músculos, me estalar sozinha, liberar o pescoço, mandar aquele e-mail já não me sai desde terça
palavra sem marca de constrangimento
se ao menos minha voz soubesse disfarçar
se ao menos o corpo dos e-mails não fosse mudo
se ao menos um ai saísse dessa tela um volumezinho, calombo de mosquito, não sei acariciar superfícies fictícias de tão planas, as abstrações matemáticas como pelo de gato, há de ter sempre um estria debaixo da coxa, se bem conheço as moças da praia do posto 6, há de ter! Se bem conheço as mulheres dos pescadores do posto 6, há de ter!
não me agradam as pernas virtuais da TV, do cinema 3D e do videogame, carnívora sempre fui, preciso aprender a devorar software, arrancar o vermelho das telas, deixar sangrar a palavra incorreta p/ sarar em paz o traço corretor
quando começar a transa invento a pílula proconcepcional de palavras recém nascidas em ambiente digital não vou morrer de assepsia sentada mais de 12 horas diárias diante de uma tela, vou transar todas, vampira do século XXI, nenhuma luz branca me mata, mando pra dentro e cuspo filhos linguagem nova, amor pelo teclado quebrado, amados sejam os erros de digitação, estrada de terra esburacada, curvas, subida de serra, riscos fora do padrão, alguma coisa ininteligível, por favor, estria ou gengiva sem fio dental