quarta-feira, 15 de abril de 2015

heterocronia

essa rua sempre dá um nó
se direita ou
esquerda se
finjo que não vejo
ou
me viro na direção dele que
meio desengonçado
eu sei
vem em minha direção quer
saber onde é
a rua Dois de Fevereiro
sigo
em direção ao mês passado dia dois

dia dois quase
caí
da bicicleta quando
me dei conta da
anacronia
absurda do vendedor de vassouras piaçava com suas madeiras empilhadas
amarradas em corda de
barbante

mais parecia um
lenhador dos contos
infantis
mais fantástico só o cara que
suspendeu o susto cortou meu devaneio disparou
no sinal da Barata Ribeiro meu
segundo quase tombo
dessa vez com fluxo intenso de carros ônibus pedestres final
de tarde

o vendedor de samambaias mais que
anacrônico
absurdamente era
um jardim suspenso
um corpo planta em movimento sem
derrubar
nem um punhado de terra

maracanã é um rio
abortado
espraiado em avenidas
o próprio nó

maracanã é um estádio
abortado
espraiado em avenidas
o próprio nó

maracanã é uma aldeia indígena
abortada
espraiada em avenidas
o próprio nó

uma torcida ensandecida
quase
derruba o anacrônico par exellence
Palácio da Guanabara

uma torcida ensandecida
quase
me derruba de vez diante do
choque

uma torcida ensandecida
quase
derruba penteu diante de
zeus

dia dois atrasada corro tanto
quase
tropeço em estilhaços samambaias
piaçavas tapumes quebrados

corro tanto dia dois
quase
desequilibro
caio ao lado do metrô no canal
maracanã

do outro lado da cidade algum
dia dois de fevereiro zona oeste
caiu
numa quarta-feira
os vizinhos conversam baixo sentados em cadeiras de
praia
na calçada trânsito desordenado de motos bicicletas e
estranhos veículos blindados

uma confissão súbita
ou sussurro inaudito antes de

essa rua sempre dá um nó
se direita ou
esquerda
desço ao metrô ou
amarro minha bicicleta apressada com
barbante
corro e sem olhar pro chão digito

uma confissão súbita
ou sussurro inaudito antes de

o subsolo de uma galeria na Nossa Senhora de Copacabana
resguarda
o Cine Jóia com trinta lugares
quinze
pessoas cansadas do trabalho ou
da falta de trabalho
assistem
às 20:45
segunda feira dia dois
uma ficção científica do
presente