segunda-feira, 9 de agosto de 2010

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Eu gosto de esquecer.
Esqueço as chaves, o dinheiro, o compromisso. Não lembro o nome de conhecidos, o nome daquela música, daquele livro que queria indicar. Não lembro nunca o que eu já disse e nem o que queria dizer. Minha memória é muito falha, de tudo me esqueço. O aniversário do melhor amigo, a data de entrega do trabalho, o caminho mais rápido.
O esquecimento é inimigo da rotina, da razão. Amigo do inusitado. Saio para passear enquanto não posso abrir a porta, encontro dinheiro no bolso, não sei o que vou fazer depois. Cumprimento com sorrisos para não errar o nome, ouço uma outra música, indico um outro livro. Digo apenas o que me disser o momento. Celebro a amizade num dia qualquer, mudo o meu trabalho, descubro um caminho diferente.
O que eu mais gosto de esquecer, contudo, é o porquê de todas as coisas, o porquê de qualquer coisa. Escrevo esse texto. Por que?