quarta-feira, 3 de setembro de 2014

qui 1:31

perseguida por e-mails notificações pensamento obsessivo em baratas coloridas espelhos de corpo inteiro reflexos superfícies terrestres em escama de peixe suor fome um telegrama dos anos 70 revela o paradeiro dos resistentes, um morreu sob tortura outro resistiu p/ suicidar-se em Berlim, viciada em açúcar branco puro, dentes brancos, telas brancas, perco a estação do metrô, agrada o cheiro de máquina espremida, cubo de metal, não saber se dia ou noite, alongamento nas barras de apoio, intuito secreto de esbarrar nos passageiros apertados, inútil paisagem no rosto de clara, as costas esticadas, se pendura na barra p/ não cairmos juntas em escala de dominó, se ele pregasse uma peça, se ela abrisse o guarda chuva, se alguém resolvesse sentar no chão, rolar, deitar, talvez um toque de dedos, talvez um esbarrão de bolsa, talvez uma implosão de mascarados, talvez gás lacrimogêneo, falta de ar coletiva (a porta se abrindo) caíamos desmaiados um a um, a estação da Cinelândia já fechada por medida de segurança, quando o ar aliviasse escutaríamos a trilha sonora do metrô, passarinhos e flautas, a segurança não permite filmar, não podemos denegrir a imagem da empresa, PROIBIDO SUICIDAR-SE, abatimento de bois em montagem eisensteiniana, o susto e a alegria do choque, depois vertov, saímos da estação já de manhã, as janelas se abrindo, os comerciantes chegando, café, pessoas nas paradas de ônibus, café, passo apressado, café, roupa de trabalho, café, a cidade acorda afobada com um sonho estranho de correria, tapume quebrado, as agências bancárias hermeticamente fechadas como panela de pressão
merda, não posso dizer que sonhei ontem, a arcada dentária sempre denuncia, esse bruxismo frenético, esse defeito de falar dormindo 
como se eu pudesse engolir Blanchot, tomar pílulas de alemão, dar pro professor de francês, esmagar línguas com farinha, mandar o rolo compressor para barra de endereçamento, busca, atualiza, executa, um clico programático do amor, papo de afeto significa escutar 10 vezes seguidas uma música inócua em tom alto que não consigo alcançar, balanço mais forte alicerce que tem nesse mundo, o cupido me flechou (miau) o texto está nas lacunas, no que deixo pra trás, o limiar é o limite, o príncipe da beira, foi no bloco olodum que encontrei meu amor, textura na tela ou na terra? sacudir é a meta! metamorfosear-me em movimento puro, velocidade infinita, seja lá o que isso for, vou descobrir o espaço e o cinismo do espaço, do cruzar de pernas, das mãos escondidas atrás da nuca, do espanto geográfico, está tudo aqui, quantos séculos pra matar Platão?