quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Se eu vou saber reagir ao sinal, se você perdoaria minha brutalidade, você, nos seus estados brutos. Se há alguma filigrana de comunicação no suor, alguma inteligibilidade secreta no choque das temperaturas percorrendo as camadas espessas de pele sob o pouco de barba, no ar que bafora com força, nos pequenos bloqueios inspiratórios, no jeito apressado de fumar, hoje eu não sei fazer humor e talvez seja essa a maior distância entre dois pontos. Nos seus passos estanques e pesados há ainda uma sinceridade profunda e invejável com o chão, uma sinceridade rítmica e inconteste. Não posso fazer teoria hoje, ainda se fosse a única maneira de compreender a menor distância entre dois pontos, mas pressinto que estava tudo dito. O sentido político esta descrito logo ali, em movimento marcado na serenidade dos arcos que os seus pés desenham, imagina, pro corpo balançar de um lado pro outro atrasando qualquer fim. Sim, nós rompemos efetivamente com as teleologias, sim, rompemos com as todas as causalidades, sim, parece, estamos mesmo no século XXI. Ou pelo menos as curvas que os seus pés fazem no cimento, ou pelo menos o vestígio das patas dos cães que passaram quando ainda fresco.