terça-feira, 19 de abril de 2016

tem sempre um fio
de suor
que rompe
o silêncio gelado
nos jardins do MAM
a latência 
de um beijo fora
da garganta
ardendo ardendo
ardendo ardendo
sob a acústica 
imprescindível
do vão central
o clamor
a súplica
agonizamos, sim
com um pouco de resignação, sim
as fardas 
(que nos cercam)
não
a luz rubra
(que nos cerca)
não
afogam
hoje
e amanhã
e terça
as vibrações sonoras
em marés
esvaziadas
seca
sob o concreto

pesquisa errática de pés
cambaleantes
sobre pedras
antigas, escombros
passos meândricos 
calor, deslize de mãos

torres cadentes
brilham em assopros
de pó cintilante

andaimes
chacoalhados
deixam poeira
no roçar das costas
ao descerem todos

os etéreos 
mascarados
com a urgência necessária
de seguir

alfaias
baque virado 
batidão
every street lamp that I pass
beats like a fatalistic drum

beats beats
beats beats

o curso da rua
desmembra
fricções
de cheiros cruzados
rumores
de nucas expostas
enxames
de gestos espontâneos
entrega absoluta
a todas as curvas possíveis
torcendo
as 24 vértebras
do crânio
à pelve 
aos pés
aos alicerces

em desenlaces espontâneos
de roupas a menos
panos caem
para construir
o chão 
sinuoso
de um dia seguinte
igualmente 
quente
sujo
e desnudo

diante da janela
que testemunha
tenra
do alto, uns prédios
caídos como panos

as superfícies úmidas
das costas
dos ombros
dos braços
das mãos
o tronco inteiro
a me envolver 
e desenlaçar
também as roupas
mais íntimas
tecidos
epidérmicos

depois das despedidas
sempre abruptas
me movo
ainda
com a leveza das cortinas
das janelas 
entre-abertas
e o puro

prazer atmosférico

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