tem sempre um fio
de suor
que rompe
o silêncio gelado
nos jardins do MAM
a latência
de um beijo fora
da garganta
ardendo ardendo
ardendo ardendo
sob a acústica
imprescindível
do vão central
o clamor
a súplica
agonizamos, sim
com um pouco de resignação, sim
as fardas
(que nos cercam)
não
a luz rubra
(que nos cerca)
não
afogam
hoje
e amanhã
e terça
as vibrações sonoras
em marés
esvaziadas
seca
sob o concreto
pesquisa errática de pés
cambaleantes
sobre pedras
antigas, escombros
passos meândricos
calor, deslize de mãos
torres cadentes
brilham em assopros
de pó cintilante
andaimes
chacoalhados
deixam poeira
no roçar das costas
ao descerem todos
os etéreos
mascarados
com a urgência necessária
de seguir
alfaias
baque virado
batidão
every street lamp that I pass
every street lamp that I pass
beats like a fatalistic drum
beats beats
beats beats
o curso da rua
desmembra
fricções
de cheiros cruzados
rumores
de nucas expostas
de nucas expostas
enxames
de gestos espontâneos
entrega absoluta
a todas as curvas possíveis
torcendo
as 24 vértebras
do crânio
à pelve
aos pés
aos alicerces
em desenlaces espontâneos
de roupas a menos
panos caem
para construir
o chão
sinuoso
de um dia seguinte
igualmente
igualmente
quente
sujo
e desnudo
diante da janela
que testemunha
tenra
do alto, uns prédios
caídos como panos
as superfícies úmidas
das costas
dos ombros
dos braços
das mãos
o tronco inteiro
a me envolver
e desenlaçar
também as roupas
mais íntimas
tecidos
epidérmicos
depois das despedidas
sempre abruptas
me movo
ainda
com a leveza das cortinas
das janelas
entre-abertas
e o puro
prazer atmosférico
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