quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

gongo

Contra as abelhas. Travada a luta contra o pavor. Suas penas coloridas presas sobre o buraco da orelha. Brinco de pena. Pavor cravado no rosto de Clara. Fiapos de pena desfiam uma única voz rompida em pequenos brilhos. Miçangas no chão. Vozes multiplicadas, ruídos de pavão desfeito. Enxame de abelhas ferozes. Ferrão na orelha de Clara. Subtraia a calma o zumbido, a coceira, o formigar dos nervos, a desfibração insidiosa da pele quando experimentava os brincos diante de um pequeno espelho de borda laranja -  artesanato indígena de pavão sintético. Diante do flash do celular da mãe sob a oca mal iluminada, o rosto dela se abria em micro dissociação pixelar. Quanto custa essa pena verde roxa amarelada com missanga? Quanto custa manter todos os fiapos em conjunto coeso diante do espelho? Quanto custa não confundir o brilho da íris com algum brilho de flash pendurado no segundo furo? Arrancaria repetidas vezes o brinco com a violência pontual de uma abelha. Pintaria a pena de sangue. Desconfiaria de todas as vozes ou liquidaria o pavor em em gotas para vender num pequeno conta-gotas azul, não fosse o olhar soturno do macaco enjaulado que pôs a mão pra fora. Roubou o brinco de Clara. Sua paz translúcida distendida num único puxão, a habilidade implacável de roubar penas sintéticas.

O índio avisou pra não encostar na grade. O macaco maior morde. Por isso só aos domingos soltam os macacos, que, no entanto, retornam às segundas com as exatas dimensões de uma resignação de jaula cúbica. 2 por 2. 

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