quarta-feira, 13 de maio de 2015

parte I

já são mais de dez caveirões
passando
de raspão
já cinco balas
atravessam
o suporte-corpo 
(eu não estava lá)
continuo a correr entre
máscaras meninos
de rua
à despeito de todos os helicópteros
fizemos 
uma grande festa de refugiados
sem wi-fi

os meninos da lage acima oferecem cocaína
e jogam
pedras na polícia 
eu não estava lá
e Márcia assume o bar
despeja um líquido 
em todos os mil copos
peço que me bebam
o colapso
já se deu discretamente
irremediável
é um disfarce indiscreto
e provisório
esse suporte-pele
vestido de preto
fotografado
vendendo cerveja no bar

nossa festa é
uma grande festa de despedida
ainda que angustiados
dançamos
sob os arcos
até as cinco da manhã 
sobretudo
sem saber
se o comércio abre
se os lojistas chegam mesmo
às sete da manhã

se de repente um estrondo
dois copos se quebram
com dois estrondos
muito mais barulhentos
que hélices passos corridos caixa 
de som

ainda dançamos
ainda que com algum pudor
da nossa desmedida 
alegria
é que não sabemos mesmo
se os ônibus já voltaram 
a circular

não estamos caindo
incessantemente?
minha mucosa escorria
entre os copos derramados
os cacos

alguns amigos
ainda escondidos nas beiradas
dão pequenos voos rasantes 
sem medo de se perder
em corpos estranhos
suportes-abelhas-caga-fogo

os policiais já dormem
e estamos todos tão tontos
e em tantos pedaços no chão
e não estamos caindo incessantemente?



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