segunda-feira, 7 de julho de 2014

desinseticida

qua 01:22

um inseto, onde já se viu? gritos na vizinha, barulho estranho na dispensa, o vulto fatídico, mais um som estranho: (sobressalto milimétrico de hipótese refutada) marcação constante do som do elevador. continuo a percorrer a casa, já são 3 minutos e meio de busca sete voltas e meia pela casa incluindo banheiro de empregada e corredor do prédio. nada vi. não vi o inseto correr pelas paredes, subir prateleiras, lamber meus livros, sugar água das minhas plantas, perfurar a geladeira, penetrar o pote de feijão congelado, comer minha comida, se deitar no meu cobertor, cuspir no tapete repetir a sequência programática com variações de cochilo no sofá, roubo de senha, adentramento de gavetas, análise de meias e calcinhas. eu não vi, não posso crer. apenas o som do elevador, mais uma vez, continuo diante de uma tela que me acaricia sem tocar. a luminosidade branca percorrendo horas, esbranquiçando minha pele. já não acaricio porque não sei acariciar como não sei estalar dedos como não sei tocar a nuca como se toca uma nuca

qua 01:27

S A U D A D E palavra operação cérebro-afetiva consiste em reativar passados reapresentar passos, reproduzir os sons de salto alto entrando pela casa, percurso: banheiro xixi cozinha água sofá tirar os sapatos banheiro mais uma vez, banho água quente escorrendo, molhando cabelo, molhando

qua 01:36 tangerina | gominhos | células | caroços | casca | cor laranja

um fio narrativo deve ser uma tênue ameaça de ruptura, barbante vagabundo em constante arrebentar, bem ou mal emendado, ou perdessência numa gaveta antiga do móvel esquecido no canto da luz queimada, o fio encontrado por um ou outro neto que não se importa com continuidades enquanto brinca de ioiô, não é assim a memória? ai, amor, eu não me esqueço do dia que você só não me comeu no meio da rua porque eu estava de calça, eu tinha saído de blusa de botão imaginando que seria bonito vc abrir um a um, criei as dezessete aberturas antes de dormir, não espere que não volto, me desloco no espaço em voltas circulares de fio de telefone, como se existissem fios de telefone, como se os guardas de trânsito permitissem curvas arredondadas, a redundância é falsa pista, agora estou compenetrada em tirar fiapos entre os dentes, já imaginou uma formiga por dentro da sua blusa subindo pelas costas escalando costela por costela ombro nuca garganta?




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