sábado, 27 de julho de 2013

Ilha do Crôa

sobre o descontentamento total com as novas linhas de ônibus, o aluguel, o cansaço, as padarias, as moças das padarias debruçadas sobre o caixa, sobre a merda toda que se desenrola homeopática nos jornais, sobre a preguiça de ler o jornal, sobre o jornal sobre o sofá da sala de espera, sobre a impossibilidade de diálogo com o motorista, sobre o sono do motorista, sobre a impossibilidade do motorista dormir sobre o volante, sobre as curvas fechadas, sobre o túnel, sobre o eco ensurdecedor do túnel, sobre impossibilidade de ser agora aquele cara de chapéu de palha que sim, eu sei, continua lá mesmo nas terças-feiras de baixa temporada, aquele cara que já era bem velho até, deitado na palhoça na praia do carro quebrado, ele corta o côco com o próprio facão e bebe, sobre ser já tão velha, cansada, ele bebe mais um, e deita na areia, roça na areia, se enrosca, ele pensa na mulher dele quando ela vinha de vestido molhado (lá as mulheres mergulham de roupa e voltam com os peitos marcados) ele não usa nunca protetor solar
as falésias da praia são camadas
de tempo sobre tempo
erguendo paredões
a pele
uma sucessão de fotogramas
as areias da idade
fincadas
nas rugas do rosto








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